sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Relativizar a Reflexividade do mundo

Hoje serei um pouquinho mais acadêmico. Coisa que sempre digo nos jantares de família, a importância das noções de antropologia social e sociologia é imensa para todo e qualquer indivíduo. O conhecimento, mesmo básico, desses fatores ajuda a construir - desde que passado de forma não fundamentalista - a reflexão acerca de diversos fatores na vida individual, que acabam por contribuir para a construção de uma sociedade mais "pensante", por assim dizer.

Longe de qualquer embasamento que me traga cegueira acadêmica ou ideológica, não quero dizer que quem estuda tais coisas sabe refletir melhor, - aliás, refletir não é algo o qual se possa atribuir qualidade - mas que no humilde ponto de vista desse quase-sociólogo que escreve, a antropologia social e a sociologia ajudam a superar preconceitos. E não, não é só preconceito no sentido usado informalmente, mas pegando a origem do termo: conceitos pré-formados.

No mundo moderno, vemos que os indivíduos vivem numa grande enxurrada de informações. Vemos também que essa enxurrada de informações ajudam os indivíduos a serem o que são, assim como todo e qualquer tipo de informação ajuda a constituir um indivíduo em qualquer época da história da humanidade. A diferença é a questão tempo-espaço: o mundo moderno permite que informações de todo o mundo cheguem até os indivíduos de forma mais dinâmica, mais rápida e a interminantemente. Essa idéia nos remete ao conceito de Reflexividade. Como diz Giddens em "As consequências da Modernidade":

"A reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz da informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter".

Nesse momento poderia facilmente falar sobre a Internet, as mídias sociais e o dinamismo tecnológico que as formas de comunicação tomaram, mas dessa vez falarei sobre a formação do "eu reflexivo".(*)

A enxurrada de informações contribui, certamente para a formação pessoal de cada indivíduo. Além disso, podemos concluir facilmente que se em algum momento o indivíduo absorve valores a partir da reflexão intensa dessa enxurrada de informações, há também a formação de uma certa "reflexivização" do seu "eu" enquanto pessoa política. Quero dizer, enquanto somos bombardeados por informações, podemos muito bem mudar nosso ponto de vista político ou exaltar um ponto de vista pessoal para um plano público, tal qual os homossexuais (motivo pelo qual talvez o argumento de que o número de homossexuais no mundo não esteja aumentando, mas sim o número de pessoas que se assumem como tal seja coerente). Nesse sentido, podemos ver que a vida política passa a ser uma política da vida, onde as questões do âmbito privado passa para o âmbito público.(*)

Se concluirmos que o mundo moderno passa a ser algo intenso no que toca a manifestação pessoal derivada de uma gama imensa de informação, chegaremos a conclusão de que - mais do que nunca, para que haja a formação de indivíduos mais éticos - é necessário relativizar o ponto de vista do outro, tal qual Roberto DaMatta em "Relativizando" incentiva nas suas pesquisas com os índios Apinayé. Segue o pensamento:

"Quando estudei os nomes pessoais entre os Apinayé do Norte do Estado de Goiás e vi que, entre eles, os nomes eram mecanismos para estabelecer relações sociais, foi que pude reconhecer imediatamente o papel dos nomes entre nós. Aqui, percebi, que os nomes servem para individualizar, para isolar uma pessoa das outras e, assim fazendo, individualizar um grupo (uma família) de outro.(...) Entre os Apinayé e os Timbira em geral, porém, os nomes não individualizam mas, muito ao contrário, estabelecem relações muito importantes entre um tio materno e o sobrinho, já que ali os nomes são sistematicamente transmitidos dentro de certas linhas de parentesco."

Ou seja, para o grupo indígena estudado os nomes são marcações de parentesco enquanto na nossa sociedade os nomes são usados na demarcação do "eu" de forma individual. Seguindo o raciocínio, entendemos que os nomes são usados de formas diferentes em sociedades diferentes, assim como cada cultura tem uma linguagem(às vezes a língua é a mesma, mas a linguagem exposta por ela podem ser completamente diferentes ao uso de uma palavra igual para ambas culturas) , uma forma de comer, uma forma de conversar. Podemos, então, pegar a sociedade entitulada "Cristã-Judaico-Ocidental" e dividí-la em vários grupos: brancos, negros, gays, católicos, brasileiros, cariocas, nova iorquinos e ver que cada um tem sua peculiaridade em cada espaço do mundo que ocupa. Digo, um branco gay carioca é diferente de um branco gay e católico de Nova York em sua vida social. É aí que entra a necessidade de se relativizar: é extremamente importante que, cada indivíduo, relativize o próximo, aceitando que sua cultura - que hoje é reflexiva - lhe ofereçe uma forma diferente de manifestar seu "eu" no mundo em relação à outras pessoas que parecem, por um momento, iguais. Orientar as crianças a pensarem de forma relativizadora o que a reflexividade oferece ao mundo moderno é simplesmente ajudar na construção de indivíduos melhores, que possam romper pré-conceitos de forma mais branda e consolidar um mundo com menos ódio e mais reflexão.



(*)Uma postagem relacionando a reflexividade e a comunicação será bem pretinente em breve.

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