Pode parecer idiota fazer uma reflexão sobre o ano quando ainda estamos no último dia de Outubro, mas 2008, por tantas particularidades, merece um destaque negativo: A falta de feriados para nós. Vários dele caíram (e ainda cairão) no DOMINGO! o próximo dia 2 de novembro, dia de finados, também seguira essa regra, assim como foi o 12 de outubro, 7 de setembro, 20 de janeiro...
É muito comum ver as pessoas criticando os feriados, por conta dos prejuízos que causa ao comércio, aos serviços terceirizados etc.. mas é inegável que uma folga, as vezes, é bom para todos.
Legal que o Judeus tem a vantagem de ter os feriados deles e AI DO PATRÃO que recusar dar folga ao funcionário no Yon Kipur. E mesmo assim, eles também folgam no dia de nossa senhora aparecida, no natal... feriados cristãos.
Sou da tese que deveríamos montar nossos feriados, ter nossas datas comemorativas. Eu não sou católico e sou obrigado a aturar feriados religiosos.. não que eu não goste da folga, mas para mim, não tem cabimento parar a cidade por conta da atividade de UMA única facção dentro de uma religião, no caso, o catolicismo dentro do cristianismo.
Hoje, por exemplo, é 31 de outubro, aniversário da reforma protestante. Eu queria ter essa data disponível para comemorações dos 491 das 95 teses de Martinho Lutero terem sido pregadas na porta de uma catedral, mudando a história do mundo, mas não posso.Trocaria um dia de santo qualquer por um feriado no dia de hoje.. mas isso é inflexível e inegociável.
Então, é melhor eu descançar no feriado de São Jorge, um santo que nem a história sabe se existiu mesmo ou não.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
E no Rio de Janeiro...
As eleições no Rio acabaram mas o debate acerca da disputa ainda está rendendo pano pra manga: de um lado - o vitorioso - a alegria toma conta com a esperança de se renderem bons frutos com a inédita união entre governo municipal, estadual e federal, mesmo com a briga entre PT e PMDB no Congresso. Do outro lado, um sentimento de lamentação misturada com uma pitada de conspiração inspira os eleitores de Gabeira a se voltarem contra as formas pelas quais as eleições foram realizadas, mas desestimula o cadidato, que antes mesmo da votação de Domingo já havia dito que "tinha ido longe demais".
Sem muitas voltar, observemos que a abstenção dos 955 mil eleitores - além de ser um fator extremamente democrático, afinal o voto facultativo, mesmo fora da lei, é o que mais há de expressão democrática - não foi o definidor e muito menos o estopim para a lamentação e a conspiração que nem sempre andam juntos do lado derrotado.
Paes foi extremamente calculista em sua jogada política e venceu por merecimento, não por ignorância do público-alvo do candidato. Uninado uma boa propaganda (com o apoio do presidente Lula e do governador Sérgio Cabral) com o sucesso de algumas obras e do Pan2007, o futuro prefeito conseguiu esconder as falhas do seu lado ético e evidenciar seus projetos abordando também a possível falta de conhecimento do rival Fernando Gabeira. Temos aqui o modelo de político clássico da atualidade: um indivíduo com bons planejamentos, bons padridos para o cenário político mas pertencente a uma oligarquia que, assim como ele, tem como fraqueza o lado ético.
Já o candidato derrotado representava uma espécie de fuga: com Crivella, Jandira e Molon - cada um com um ponto que desfavorece ascenção de popularidade - só restava ao povo carioca pesquisar sobre o candidato do Partido Verde para esboçar uma chance de mudar o domínio oligárquico representado por Paes. Vieram então a exploração dos acontecimentos da vida de Gabeira: ex-militante e conhecido por rotulações "homossexuais e entorpecentes", o candidato sofreu duros ataques durante a tentativa de mostrar seu lado ético contra os esquemas de corrupção já existentes (veio à tona, então, o famoso discurso de Gabeira na câmara). Embora esse lado seja aceitável como positivo, até hoje há uma grande incógnita sobre o destino da mudança do pensamento ético de Fernando Gabeira. Faltou também clareza na parte dos projetos para a cidade, mostrada pela falta de demonstração de interesse e conhecimento sobre a cidade. Formou-se então o candidato do outro lado: um indivíduo com um histórico duvidoso, que possibilitaria uma mudança no lado ético (mas que não se sabe até onde essa mudança poderia ir) e que possui projetos pouco claros sobre a cidade.
Então, nessa disputa entre Boa gestão e ética obscura e Gestão duvidosa e ética ilimitável ficou bem evidente que o povo carioca gosta de certezas, não que a diferença de 55 mil votos foi definida pela "preguiça, ignorância e cegueira política" das 955 mil abstenções(como se vê nos discursos por aí) independente de feriado, chororô, conspiração ou classe dos eleitores cariocas.
Sem muitas voltar, observemos que a abstenção dos 955 mil eleitores - além de ser um fator extremamente democrático, afinal o voto facultativo, mesmo fora da lei, é o que mais há de expressão democrática - não foi o definidor e muito menos o estopim para a lamentação e a conspiração que nem sempre andam juntos do lado derrotado.
Paes foi extremamente calculista em sua jogada política e venceu por merecimento, não por ignorância do público-alvo do candidato. Uninado uma boa propaganda (com o apoio do presidente Lula e do governador Sérgio Cabral) com o sucesso de algumas obras e do Pan2007, o futuro prefeito conseguiu esconder as falhas do seu lado ético e evidenciar seus projetos abordando também a possível falta de conhecimento do rival Fernando Gabeira. Temos aqui o modelo de político clássico da atualidade: um indivíduo com bons planejamentos, bons padridos para o cenário político mas pertencente a uma oligarquia que, assim como ele, tem como fraqueza o lado ético.
Já o candidato derrotado representava uma espécie de fuga: com Crivella, Jandira e Molon - cada um com um ponto que desfavorece ascenção de popularidade - só restava ao povo carioca pesquisar sobre o candidato do Partido Verde para esboçar uma chance de mudar o domínio oligárquico representado por Paes. Vieram então a exploração dos acontecimentos da vida de Gabeira: ex-militante e conhecido por rotulações "homossexuais e entorpecentes", o candidato sofreu duros ataques durante a tentativa de mostrar seu lado ético contra os esquemas de corrupção já existentes (veio à tona, então, o famoso discurso de Gabeira na câmara). Embora esse lado seja aceitável como positivo, até hoje há uma grande incógnita sobre o destino da mudança do pensamento ético de Fernando Gabeira. Faltou também clareza na parte dos projetos para a cidade, mostrada pela falta de demonstração de interesse e conhecimento sobre a cidade. Formou-se então o candidato do outro lado: um indivíduo com um histórico duvidoso, que possibilitaria uma mudança no lado ético (mas que não se sabe até onde essa mudança poderia ir) e que possui projetos pouco claros sobre a cidade.
Então, nessa disputa entre Boa gestão e ética obscura e Gestão duvidosa e ética ilimitável ficou bem evidente que o povo carioca gosta de certezas, não que a diferença de 55 mil votos foi definida pela "preguiça, ignorância e cegueira política" das 955 mil abstenções(como se vê nos discursos por aí) independente de feriado, chororô, conspiração ou classe dos eleitores cariocas.
sábado, 25 de outubro de 2008
Reinaugurando
Após esses quase dois anos sem atividade, o Reflexões do Cotidiano está de volta.
O artigo abaixo é o primeiro dessa retomada virtual e tem essencialmente a ver com a reflexão dos dias em que vivemos, com as coisas que observamos mas muitas vezes ignoramos.
Espero que gostem.
Abraços,
Daniel L. Ruffo
O artigo abaixo é o primeiro dessa retomada virtual e tem essencialmente a ver com a reflexão dos dias em que vivemos, com as coisas que observamos mas muitas vezes ignoramos.
Espero que gostem.
Abraços,
Daniel L. Ruffo
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Ponto de ônibus
Indo para a aula como todos os dias, me deparei com algo normal mas não tão comum quanto a rotina das aulas: ao saltar do ônibus, um grupo de crianças sujas e maltrapilhas - que eu não sei se era de rua - entrou pela porta de trás do ônibus em que eu estava com uma intensa excitação, como se algo de bom estivesse para acontecer. Como era um grupo considerável para aquela situação (cerca de oito crianças, sendo que a mais velha - aparentando 12 - fumava um cigarro doado por um ambulante), agi com certa estranheza (o que acontece com os outros é "normal" , quando conosco, estranho) e falei com um tom agressivo " Deixa eu passar aí". As cinco crianças que entravam no ônibus ignoraram ou pela felicidade intensa ou pela preocupação com as crianças que ainda não haviam entrado no ônibus. Como resposta, ouvi do menino mais novo um "Pode passar moço". Pois bem, passei, fui embora e não olhei para trás.
Após alguns minutos caminhando me peguei pensando naquela situação: será que essas crianças são assim porque não tem educação? Então é aqui que fazemos nossa primeira Reflexão do Cotidiano depois de quase dois anos de inatividade virtual.
De pronto, fiz a suposição de que eram crianças que não tinham uma vaga numa escola pública(muito menos particular), fato que influencia mas não determina aquelas atitudes vorazes de entrar no ônibus com tamanha agitação, assim como dizer que "Eles agiram assim por causa da sociedade" é do mais puro senso comum que me dispenso de falar sobre a afirmativa.
É visível que tal maneira de agir se dá por parâmetros sociais que tem mais a ver com as classes (apesar de ultrapassá-las) do que com a educação. Prova disso é observada na educação do menor que, antes de entrar no ônibus, me disse "Pode passar moço".
Outro fato observável está dentro das escolas públicas: os indivíduos que possuem sua vaga garantida nessas instituições teriam a mesma atitude do que as crianças naquele ponto de ônibus, com objetivos iguais mas por meios e consciências diferentes. O capital social[1] (Não se predomina na sociedade somente com o acúmulo de bens materiais) ali abordado, é desejado nos dois casos, mas um grupo sabe que a atitude acarreta certos problemas e o outro, talvez, ache que agir daquela forma seja apenas mais uma ação rotineira (e é aí que a educação influencia mas não determina tais atitudes).
O objetivo em questão vai além de "pegar um bonde com o piloto": ali estão os desejos de imposição por destaque, fomentados pelas precárias condições que o Estado proporciona para aqueles. Observa-se então a temática das classes. Não que os componentes das classes C, B ou A estejam insentos de tais condições - não estão pois existem alguns serviços que ainda não exigem um grande montante de dinheiro para serem usados (ou por fortuna ou por falta de interesse do capital privado) - mas se tais classes não possuíssem certo capital (nesse caso material), estariam necessariamente subordinadas a todos os serviços públicos medíocres do Estado assim como os componentes das classes D e E estão. Toda essa problemática se agrava por históricas más administrações que influenciaram diretamente na disparidade observada entre as classes hoje.
Por fim, pude tirar uma conclusão lastimável sobre isso: a educação não é fator determinante para o acúmulo do capital social, embora devesse ser. Se tal educação estivesse aliada com administraçõs melhores, misturadas - é claro - com certa mudança nos parâmentros de acúmulo de bens materiais (mas esse é um assunto para outro post), a disparidade inter-classes seria menor e o capital social seria outro, adquiridos de outras formas e geradores de um possível "Esperem os passageiros descerem e vamos conversar com o motorista pra entrar no ônibus" por parte da mais velha daquelas crianças do ponto de ônibus, que não mais fumaria aquele cigarro.
Até a próxima,
Daniel L. Ruffo
[1] ORTIZ, Renato "Pierre Bourdieu - Sociologia" pág. 22
Após alguns minutos caminhando me peguei pensando naquela situação: será que essas crianças são assim porque não tem educação? Então é aqui que fazemos nossa primeira Reflexão do Cotidiano depois de quase dois anos de inatividade virtual.
De pronto, fiz a suposição de que eram crianças que não tinham uma vaga numa escola pública(muito menos particular), fato que influencia mas não determina aquelas atitudes vorazes de entrar no ônibus com tamanha agitação, assim como dizer que "Eles agiram assim por causa da sociedade" é do mais puro senso comum que me dispenso de falar sobre a afirmativa.
É visível que tal maneira de agir se dá por parâmetros sociais que tem mais a ver com as classes (apesar de ultrapassá-las) do que com a educação. Prova disso é observada na educação do menor que, antes de entrar no ônibus, me disse "Pode passar moço".
Outro fato observável está dentro das escolas públicas: os indivíduos que possuem sua vaga garantida nessas instituições teriam a mesma atitude do que as crianças naquele ponto de ônibus, com objetivos iguais mas por meios e consciências diferentes. O capital social[1] (Não se predomina na sociedade somente com o acúmulo de bens materiais) ali abordado, é desejado nos dois casos, mas um grupo sabe que a atitude acarreta certos problemas e o outro, talvez, ache que agir daquela forma seja apenas mais uma ação rotineira (e é aí que a educação influencia mas não determina tais atitudes).
O objetivo em questão vai além de "pegar um bonde com o piloto": ali estão os desejos de imposição por destaque, fomentados pelas precárias condições que o Estado proporciona para aqueles. Observa-se então a temática das classes. Não que os componentes das classes C, B ou A estejam insentos de tais condições - não estão pois existem alguns serviços que ainda não exigem um grande montante de dinheiro para serem usados (ou por fortuna ou por falta de interesse do capital privado) - mas se tais classes não possuíssem certo capital (nesse caso material), estariam necessariamente subordinadas a todos os serviços públicos medíocres do Estado assim como os componentes das classes D e E estão. Toda essa problemática se agrava por históricas más administrações que influenciaram diretamente na disparidade observada entre as classes hoje.
Por fim, pude tirar uma conclusão lastimável sobre isso: a educação não é fator determinante para o acúmulo do capital social, embora devesse ser. Se tal educação estivesse aliada com administraçõs melhores, misturadas - é claro - com certa mudança nos parâmentros de acúmulo de bens materiais (mas esse é um assunto para outro post), a disparidade inter-classes seria menor e o capital social seria outro, adquiridos de outras formas e geradores de um possível "Esperem os passageiros descerem e vamos conversar com o motorista pra entrar no ônibus" por parte da mais velha daquelas crianças do ponto de ônibus, que não mais fumaria aquele cigarro.
Até a próxima,
Daniel L. Ruffo
[1] ORTIZ, Renato "Pierre Bourdieu - Sociologia" pág. 22
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