quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E no Rio de Janeiro...

As eleições no Rio acabaram mas o debate acerca da disputa ainda está rendendo pano pra manga: de um lado - o vitorioso - a alegria toma conta com a esperança de se renderem bons frutos com a inédita união entre governo municipal, estadual e federal, mesmo com a briga entre PT e PMDB no Congresso. Do outro lado, um sentimento de lamentação misturada com uma pitada de conspiração inspira os eleitores de Gabeira a se voltarem contra as formas pelas quais as eleições foram realizadas, mas desestimula o cadidato, que antes mesmo da votação de Domingo já havia dito que "tinha ido longe demais".

Sem muitas voltar, observemos que a abstenção dos 955 mil eleitores - além de ser um fator extremamente democrático, afinal o voto facultativo, mesmo fora da lei, é o que mais há de expressão democrática - não foi o definidor e muito menos o estopim para a lamentação e a conspiração que nem sempre andam juntos do lado derrotado.

Paes foi extremamente calculista em sua jogada política e venceu por merecimento, não por ignorância do público-alvo do candidato. Uninado uma boa propaganda (com o apoio do presidente Lula e do governador Sérgio Cabral) com o sucesso de algumas obras e do Pan2007, o futuro prefeito conseguiu esconder as falhas do seu lado ético e evidenciar seus projetos abordando também a possível falta de conhecimento do rival Fernando Gabeira. Temos aqui o modelo de político clássico da atualidade: um indivíduo com bons planejamentos, bons padridos para o cenário político mas pertencente a uma oligarquia que, assim como ele, tem como fraqueza o lado ético.

Já o candidato derrotado representava uma espécie de fuga: com Crivella, Jandira e Molon - cada um com um ponto que desfavorece ascenção de popularidade - só restava ao povo carioca pesquisar sobre o candidato do Partido Verde para esboçar uma chance de mudar o domínio oligárquico representado por Paes. Vieram então a exploração dos acontecimentos da vida de Gabeira: ex-militante e conhecido por rotulações "homossexuais e entorpecentes", o candidato sofreu duros ataques durante a tentativa de mostrar seu lado ético contra os esquemas de corrupção já existentes (veio à tona, então, o famoso discurso de Gabeira na câmara). Embora esse lado seja aceitável como positivo, até hoje há uma grande incógnita sobre o destino da mudança do pensamento ético de Fernando Gabeira. Faltou também clareza na parte dos projetos para a cidade, mostrada pela falta de demonstração de interesse e conhecimento sobre a cidade. Formou-se então o candidato do outro lado: um indivíduo com um histórico duvidoso, que possibilitaria uma mudança no lado ético (mas que não se sabe até onde essa mudança poderia ir) e que possui projetos pouco claros sobre a cidade.

Então, nessa disputa entre Boa gestão e ética obscura e Gestão duvidosa e ética ilimitável ficou bem evidente que o povo carioca gosta de certezas, não que a diferença de 55 mil votos foi definida pela "preguiça, ignorância e cegueira política" das 955 mil abstenções(como se vê nos discursos por aí) independente de feriado, chororô, conspiração ou classe dos eleitores cariocas.

6 comentários:

  1. E para onde(ou para quem) se destinaria um "boa gestão" e ética obscura?

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  2. Não entendi o histórico duvidoso?
    E sinceramente, a jogada do feriadão foi muito esperta é claro mas eu sinceramente não acho que é mérito do Eduardo Paes para se eleger... Se for assim o aluno que cola e não é pego teve mérito de passar pois conseguiu colar e ninguem pode provar...
    Assim como o aluno não deveria passar simplesmente pelo fato dele não ter conhecimento na matéria o suficiente o Paes só deveria entrar se tivesse real maioria na população.
    Lembrando que não estou afirmando que ele não tem maioria, e sim que a jogada foi o medo dele perder em prática.

    abs

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  3. Como bem disse o Arnaldo Jabor na CBN, Gabeira representa o novo, a mudança, e por esses motivos atrairia atenção pro Rio de Janeiro, recolocaria a cidade sob os holofotes dentro do cenário político do país. Mas os cariocas preferiram o continuísmo. Projetos? Certezas? Outros candidatos também apresentaram em eleições passadas, inclusive a gangue de César Maia, que sucateou o Rio por mais de 15 anos.

    Os motivos que me fizeram torcer por Gabeira são os mesmos que me fazem torcer por Obama nos EUA, mesmo sabendo que pro Brasil é mais jogo John McCain no poder. Obama e Gabeira são a quebra de paradigmas que o mundo precisa.

    Essa eleição no Rio foi um soco no meu estômago. Espero que a dos EUA não seja.

    Abraços.

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  4. bom blog...
    ecreveu muito bem
    mas penso e vejo diferente.
    sou gabeira!
    mas, bom blog!

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  5. Obrigado à todos pelos comentários!!!!

    retina_absoluta:
    O problema é esse: o pós-jogo de propaganda. Pertinente a "boa gestão" entre aspas, fruto meramente da propaganda.

    Iuri:
    Quando disse "Histórico duvidoso" quis dizer que seu histórico demonstra fatores anti-democráticos, violentos e de fatores repulsivos para a sociedade. E quanto a questão do mérito, o foco não foi no feriado, já que ele abrange toda a cidade, não só eleitores de X ou Y. O foco foi, de fato, a propaganda.

    Bruno "Alemão":
    Votei e torci pelo Gabeira pelo mesmo motivo que você. Mas, assim como um possível voto no Paes, seria um voto no "escuro" (no sentido obscuro pra um e desconhecido para o outro).

    karine_luadek
    Bom que pensas diferente! É isso que move a sociedade! Gostaria de ver sua opinião se possível. Lembrando que votei no Gabeira como você.

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  6. gostei do blog, você escreve bem,mas sou de São Paulo e estou por fora dessa discussão

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